Papa Francisco - os sete dons do Espírito Santo
Desde o
nosso batismo, o Espírito Santo habita em nossa alma e produz aí os seus frutos
e dons para nos conduzir ao amor de Deus e ao serviço dos irmãos. Eles nos
ajudam a vencer o pecado e viver de acordo com as leis morais. Eles são
indispensáveis à santificação do cristão mesmo na vida cotidiana, e não apenas
para as grandes obras. O dom da ciência faz que o cristão penetre na realidade
deste mundo sob a luz de Deus; vê cada criatura como reflexo da sabedoria do
Criador e como caminho a Deus. Leva o homem a compreender o vestígio de Deus
que há em cada ser criado. O homem foi feito para Deus e só n'Ele pode
descansar, como disse Santo Agostinho. Por este dom o cristão reconhece o
sentido do sofrimento e das humilhações no plano de Deus, que liberta e
purifica o homem.
O dom
do entendimento ou inteligência nos ajuda a penetrar
no íntimo das verdades reveladas por Deus e entendê-las. Por ele o cristão
contempla os mistérios da fé. É um entendimento diferente daquele que o teólogo
obtém pelo estudo; o que é penoso e lento. O dom da inteligência é eficaz mesmo
sem estudo; é dado aos pequeninos e ignorantes, desde que tenham grande amor a
Deus.
Um
irmão leigo franciscano disse certa vez a São Boaventura († 1274), o Doutor
Seráfico: “Felizes vós, homens doutos, que podeis amar a Deus muito mais do que
nós, os ignorantes!” Respondeu-lhe Boaventura: “Não é a doutrina alcançada nos
livros que mede o amor; uma pobre velha ignorante pode amar a Deus mais do que
um grande teólogo se estiver unida a Deus.” Por esse dom conhecemos os nossos
pecados e a nossa miséria. Os santos, quanto mais se aproximaram de Deus, mais
tiveram consciência do seu pecado ou da sua distância de Deus.
O dom da sabedoria nos dá um
conhecimento da verdade revelada por Deus. Abrange todos os conhecimentos do
cristão e os põe sob a luz de Deus, mostra a grandeza do plano do Criador e a
sua onipotência. Vem da intimidade com o Senhor. “O dom da sabedoria faz-nos
ver com os olhos do Bem-amado”, dizia um grande místico. Isto não quer dizer
que devemos menosprezar o estudo, pois, se Deus nos deu a inteligência, foi
para que a apliquemos à verdade, que é Ele mesmo. Os teólogos afirmam que
veremos a Deus face a face por toda a eternidade na proporção do amor com que O
tivermos amado nesta vida.O dom
do conselho permite ao cristão tomar as decisões oportunas nas
horas difíceis da vida, para que se comporte como verdadeiro filho de Deus.
Isso, às vezes, exige coragem. Pelo dom do conselho o Espírito Santo nos inspira
a maneira correta de agir no momento oportuno. “Todas as coisas têm o seu
tempo, e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora […]” (Ecl 3, 1-8);
fora desse momento preciso, o que é oportuno pode tornar-se inoportuno; nem
sempre é fácil discernir se é oportuno falar ou calar, ficar ou partir, dizer
"sim" ou dizer "não".
O dom
da piedade nos orienta em todas as relações que temos
com Deus e com o próximo. São Paulo se refere a isso: “Recebestes o Espírito de
adoção filial, pelo qual bradamos: Abbá ó Pai” (Rm 8,15). O Espírito Santo,
mediante o dom da piedade, nos faz, como filhos adotivos de Deus, reconhecer
Deus como Pai. E, pelo fato de reconhecermos Deus como Pai, consideramos as
criaturas com olhar novo. Este dom nos leva a considerar o fato de que Deus é
sumamente santo e sábio: “Nós vos damos graças por vossa grande glória”. É o
dom da piedade que leva os santos a desejar, acima de tudo, a honra e a glória
de Deus. “Para que em tudo seja Deus glorificado”, diz São Bento. E Santo
Inácio de Loiola exclama: “Para a maior glória de Deus”. É também o dom da
piedade que desperta no cristão a inabalável confiança em Deus Pai, como, por
exemplo, Santa Teresinha. Este dom leva o cristão a ver o outro como irmão e a
amá-lo como filho de Deus.
O dom da
fortaleza nos dá força para a fidelidade à vida cristã,
cheia de dificuldades. Jesus disse que “o Reino dos céus sofre violência dos
que querem entrar, e violentos se apoderam dele” (Mt 11,12). Pelo dom da
Fortaleza o Espírito Santo nos dá a coragem necessária para a luta diária
contra nós mesmos, nossas paixões e problemas, com paciência, perseverança,
coragem e silencio. Nos dá forças além das naturais. Esta força divina
transforma os obstáculos em meios e nos dá a paz mesmo nas horas mais difíceis.
Foi o que levou São Francisco de Assis a dizer: “Irmão Leão, a perfeita alegria
consiste em padecer por Cristo, que tanto quis padecer por nós”.
O dom do
temor de Deus nos leva a amá-Lo tão profundamente que
tenhamos receio de ofendê-Lo. Nada tem a ver com o temor do mercenário ou o
temor do castigo (do escravo); mas é o temor do amor do filho. É a rejeição que
o cristão experimenta diante da possibilidade de ofender a Deus; brota das
entranhas do amor. Não há verdadeiro amor sem este tipo de temor. Medo de ofender
o Amado. Pelo dom do temor de Deus a vitória é rápida e perfeita, pois é o
Espírito que move o cristão a dizer "não" à tentação. O dom do temor
de Deus está ligado à virtude da humildade, que nos faz conhecer nossa miséria,
impede a presunção e a vã glória, e assim, nos torna conscientes de que podemos
ofender a Deus; daí surge o santo temor de Deus. Ele se liga também à virtude
da temperança; combate a concupiscência e os impulsos desordenados do coração,
para não ofender e magoar a Deus.