IRMÃS
BENEDITINAS DA PROVIDÊNCIA
RETIRO DE
JANEIRO 2020
JESUS: “COM AS PERIFERIAS
NO CORAÇÃO”
“Jesus deixou Nazaré e foi morar em
Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galiléia” (Mt 4,13)
Galiléia foi a primeira decisão
importante que Jesus tomou no início de sua vida pública.Ele começa sua
atividade longe da Judéia, de Jerusalém, do templo, das autoridades religiosas.
Jesus, na Galiléia, encontrou o seu lugar: junto
ao mar, nas estradas poeirentas, nas margens...Um “lu-gar sagrado” que
nasceu do seu coração, carregado de afeto, de inspiração, de vitalidade...
Ali, Ele teve suas preferências e elegeu o seu “lugar”
entre os mais pobres e excluídos, vítimas daqueles que se faziam donos dos
lugares; ali revelou a presença d’Aquele que se faz presente e santifica todos
os lugares: o Pai.
Jesus se fez presente noslugares
onde se encontravam aqueles que não tinham “lugar”, os “deslocados”,
os socialmente rejeitados e que eram a razão de seu amor e do seu cuidado;
fez-se solidário com os “sem lugares” e os convidou a caminhar
para um novo lugar: lugar de
vida, de comunhão...
Sua missão foi a de reconstruir a
identidade das pessoas, devolvendo a elas o seu “lugar”.
Seu ensinamento, cheio de
“autoridade”, introduziu uma perspectiva nunca ouvida antes; apresentou uma
alternativa que as pessoas mais simples do povo entendiam como revelação do Pai
aos pequeninos.
A partir das periferias do mundo, surgiu um canto de vida nova, a sabedoria
oculta a muitos sábios e expertos; uma sabedoria que vinha de Deus, desconcertando
a sabedoria exibida a partir do centro.
Jesus desconcertou a “sabedoria”
do centro a partir da “loucura” da periferia.
Podemos, então, afirmar que Jesus
descentralizou o mundo a partir da periferia.
O fato surpreendente é que, em Jesus, Deus não
só se fez homem, mas também se fez “margem”.
O próprio Jesus foi“margem”. Belém e Calvário são os dois extremos
periféricos – início e fim – de toda uma vida, despojada e pobre.
Todos tinham os olhos voltados para o centro. No templo de Jerusalém era
elaborado o saber que ia se expandindo até chegar à menor das sinagogas. No
entanto, em Jesus, o Reino de Deus
anunciado movimentou-se em direção contrária: subiu, a partir da mais baixa
periferia, para o centro. Ele começou a falar a partir da margem geográfica, cultural, religiosa e econômica.
Nesse
sentido, a vida de Jesus foi“ex-cêntrica”,
porque não combinava nem se ajustava com a construção social de todos
aqueles que controlavam o mundo a partir do centro.
No entanto, Jesus fez o “centro” da história. Nele, o Pai “nos escolheu antes da criação do mundo”.
Isto quer dizer que o “centro” da história teve seu
aparecimento na “periferia”.
Portanto, Jesus descentralizou
a história para sempre e situou o surgimento da salvação nas terras excluí-das.A
ação de Jesus provocou um deslocamento
geográfico-social-religioso.
O centro da história já não se
encontra mais em Roma, nem em Jerusalém, e sim na “margem”. Todo aquele que, a partir de então, pretende encontrar-se
com Jesus terá de voltar a cabeça e peregrinar em direção às margens, onde
estão os prediletos do Pai.
Tendo Jesus se encarnado
para sempre nas “periferias” do mundo, porque desejou assumir toda a histó-ria
a partir daí, também nós, seguidores(as), temos de dirigir constantemente o
olhar para as “novas periferias”, a partir de onde Ele continua nos
questionando.
“Êxodo para as
periferias”:terra privilegiada, de onde podemos
contemplar a história e a própria humanidade. A razão mais importante de todo
este caminho é a união ao movimento de encarnação
de Jesus, decidido pelo Pai como caminho privilegiado para a realização de seu
Projeto.
Cada passo na direção
das periferias do mundo também é um
passo contemplativo em busca do
encontro com o Senhor da História, que nos chama de “baixo” e de “fora”.
“O discípulo-missionário é um
des-centrado: o centro é Jesus Cristo que convoca e envia. O discípulo é
enviado para as periferias existenciais. A posição do discípulo-missionário não
é a de centro, mas de periferias: vive em tensão para as periferias” (Papa Francisco)
Quê significa “fronteiras geográficas e existenciais”?
É preciso sair dos limites conhecidos; sair de nossas seguranças para
adentrar-nos no terreno do incerto; sair dos espaços onde nos sentimos fortes
para arriscar-nos a transitar por lugares onde somos frágeis; sair do inquestionável
para assumir o novo...
É decisivo estar dispostos a abrir espaços em nossa
história a novas pessoas e situações, novos encontros, novas experiências...
Porque sempre há algo diferente e inesperado que pode nos enriquecer...
A vida está cheia de possibilidades e surpresas;
inumeráveis caminhos que podemos percorrer; pessoas instigantes que aparecem em
nossas vidas; desafios, encontros, aprendizagens, motivos para celebrar, li-
ções que aprenderemos e nos farão um pouco mais
lúcidos, mais humanos e mais simples...
A periferia passa a ser terra privilegiada
onde nasce o “novo”, por obra do Espírito. Ali aparece o broto
original do “nunca visto”, que em sua pequenez de fermento profético torna-se
um desafio ao imobilismo petrificado e um questionamento à ordem estabelecida.
Jesus começou sua vida pública com um novo
ensinamento, rompendo esquemas e modos de viver dita-dos pelo Templo. Diariamente
ouvimos, lemos e nos deparamos com esta palavra que está tão em moda: inovação; expressão presente em todas
as instâncias humanas: empresarial, educativo, social...
Partindo do evangelho deste domingo, podemos também
fazer esta pergunta: qual é a “inovação doEvangelho”? Que há de
inovador,na vida de Jesus, que pode nos inspirar?
Com certeza, há uma inovação acima de todas: a paixão
de Jesus pela vida, pelo Reino, pelas pessoas, de maneira especial
pelas mais excluídas e feridas. Por isso, Jesus inicia sua missão fora dos
“espaços sagra-dos” do Templo; é nas “margens” que Ele, com sua presença
inspiradora, ativa um movimento inovador e, ao mesmo tempo, humanizador.
Essa paixão de Jesus se revela em
cada passagem do Evangelho, em cada palavra que sai de sua boca, em cada gesto
que faz tremer todas as instituições, em cada ação que visa levantar, curar e
devolver a dignidade a todo ser humano com quem se encontra. Não há um indício
sequer de dogma, de doutrina, de regras, de leis..., a não ser isso: tudo o que
façamos, vivamos e desejemos, seja em prol das pessoas, para seu bem e sua
felicidade.
A inovação de Jesus está em eliminar da vida todo o peso do
legalismo, do moralismo, da culpa..., para fazer emergir o que há de mais humano
e divino presente em cada pessoa. A expressão “pescador dohumano” deixa
transparecer essa inovação mobilizada por Jesus, a partir do mais profundo de
cada um.
Seguindo Jesus e deixando-nos
impactar por sua inovação em favor da vida, estaremos, também nós, ino-vando,
quando deixaremos transparecer uma paixão pelas pessoas, que se manifesta em
nossa acolhida, em nossos gestos, no nosso olhar contemplativo, nas nossas
palavras mobilizadoras...; trata-se de investir a vida em favor da vida e
fazendo os outros se sentirem mais irmãos e mais filhos de um mesmo Pai.
Nesse sentido, Mateus também situa, no início
da vida pública de Jesus, o chamado dos quatro primeiros discípulos. Detrás
disso, há uma intencionalidade teológica, que busca mostrar Jesus e seus
discípulos compartilhando a mesma missão: aliviar o sofrimento humano, com a
certeza de que o Reino de Deus tinha
chegado.Assim, inicia-se um grande “movimento humanizador”, a partir de
baixo, das margens...
Nesse entorno da Galiléia está o futuro do
Evangelho; Galiléia é a terra do chamado e, a partir desse lugar, inicia-se
também novo caminho do seguimento.
Por isso, os(as) discípulos(as) devem entrar em
sintonia com o modo original de ser e de viver de Jesus na Galiléia. É ali que
se devem encontrar todos os seus(suas) seguidores(as), para também ali
prolongar o movimento iniciado pelo Mestre de Nazaré.
Texto bíblico: Mt 4,12-23
Na oração: Aquele Desconhecido
se aproxima, ainda hoje, do nosso mar da Ga-
liléia, que representa os lugares, os afetos, os segredos,
os costumes da nossa vida cotidiana... ; Ele fixa seu olhar em cada um de nós e, com sua Palavra inspiradora, nos desafia a transgredir
os nossos lugares estreitos e entrar em outro mar.
O
Evangelho deste domingo faz emergir algumas perguntas que são significativas
para a vida cristã:
- você
vive em processo de mudanças ou continua sempre igual? Seu modo de viver o
seguimento de Jesus é sempre criativo ou continua “normótico” (norma-lidade
doentia, sem inspiração, sem afeto...)?
- você é
um peregrino ou está ancorado no de sempre? Você está se convertendo
constantemente para uma vida nova e melhor, ou se contenta com uma mera
repetição?
HISTORINHA
ARDER POR DEUS
Segundo
uma das histórias preferidas de um padre, um certo paroquiano que ia
regularmente à missa deixa, de repente, de ir. Algumas semanas depois, o padre
decide visitá-lo. Estava uma noite fria e o padre encontrou o homem sozinho em
casa sentado à lareira.
Adivinhando a razão da visita do padre, o homem acolheu-o, conduziu-o a
uma poltrona perto da lareira e esperou. O padre instalou-se confortavelmente
mas não disse nada. No pesado silêncio, apenas se deixou ficar sentado a olhar
para o lume.
Após
alguns minutos, o padre pegou na tenaz, agarrou cuidadosamente numa brasa e
colocou-a, separadamente, num lado da lareira. Posto isto, encostou-se na
cadeira, sempre em silêncio. Ambos os homens observavam a brasa. A chama foi
diminuindo, reacendeu-se por um momento, em breve arrefecendo e apagando-se
completamente. O padre levantou-se de novo, pegou na brasa fria e apagada e
voltou a pô-la no meio da lareira. Esta voltou a brilhar imediatamente com a
luz e o calor das brasas que a rodeavam.
A moral
da história era simples. Uma brasa não pode arder sozinha: são
precisas muitas brasas para que o lume não se apague. Também a chama de cada
cristão não pode arder por Deus durante muito tempo sem o apoio constante do
resto da igreja.
3º - DOMINGO DO TEMPO
COMUM: IR ATRÁS DE JESUS
O
teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Eis o
texto
Quando João Batista foi
detido, Jesus veio para a Galileia e começou a «proclamar a Boa Nova de Deus».
Segundo Marcos, não ensina propriamente uma doutrina para que os Seus discípulos
a aprendam e difundam
corretamente. Jesus anuncia um acontecimento que está já a ocorrer. Ele já o
está a viver e quer partilhar a Sua experiência com todos.
Marcos resume assim
Sua mensagem: «Cumpriu-se o tempo»: já não tem de se olhar para atrás. «Está
próximo o reino de Deus»: pois quer construir um mundo mais humano. «Convertei-vos»: não podeis continuar como se nada
estivesse acontecendo; mudai a
vossa forma de pensar e de atuar. «Acreditai nesta Boa Nova». Este
projeto de Deus é a melhor notícia que podeis escutar.
Depois deste solene
resumo, a primeira atuação de Jesus é procurar colaboradores para levar adiante o Seu projeto. Jesus «passa
junto ao lago da Galileia». Começou o Seu caminho. É um profeta itinerante que procura seguidores para fazer
com eles um percurso apaixonante: viver abrindo caminhos ao reino de
Deus. Não é um rabi sentado na Sua cátedra, que procura
alunos para formar uma escola religiosa. Ser cristão não é aprender
doutrinas, mas seguir Jesus no Seu projecto de vida.
Quem
toma a iniciativa é sempre Jesus. Aproxima-se, fixa o Seu olhar naqueles quatro
pescadores e chama-os a dar uma orientação nova às suas vidas. Sem sua intervenção, não nasce
nunca um verdadeiro cristão. Os crentes, temos de viver com mais fé
a presença viva de Cristo e o Seu olhar sobre cada um de nós. Se não é Ele,
quem pode dar uma nova orientação às nossas vidas?
Mas o mais
decisivo é escutar de dentro da Sua Chamada: «Vinde atrás
de mim». Não é tarefa para um dia. Escutar esta chamada significa despertar a
confiança em Jesus, reavivar a nossa adesão pessoal a Ele, ter fé no Seu
projeto, identificar-nos com o Seu programa, reproduzir em nós as Suas atitudes
... e, desta forma, ganhar mais pessoas
para o Seu projeto.
Este poderia ser
hoje um bom lema para uma comunidade cristã: Ir atrás de
Jesus. Colocá-Lo à
frente de todos. Recordá-Lo cada domingo como o líder que
vai à frente de nós. Gerar uma nova dinâmica. Centrar tudo em seguir mais
próximo de Jesus Cristo. As nossas comunidades cristãs transformar-se-iam. A
Igreja seria diferente.
As parábolas do
evangelho de hoje nos colocam diante de um fenômeno humano conhecido como
serendipitia, serendipidade ou serendipismo: termos que expressam o sentimento de
alegria quando encontramos alguma coisa surpreendentemente boa sem
que, necessariamente, estejamos procurando por ela; referem-se às descobertas
afortunadas feitas por acaso; trata-se de uma forma especial de criatividade,
na qual saímos em busca de uma coisa e acabamos encontrando outras muito mais
importantes e valiosas.
Estes termos se originam da palavra inglesa
“serendipity”, criada pelo escritor britânico Horace Walpole em 1754, a partir
do conto persa infantil “os três príncipes de Serendip”. O conto revela as
aventuras de três príncipes do Ceilão, hoje Sri Lanka, que viviam fazendo
descobertas inesperadas durante o seu caminho. Graças à capacidade deles que
aliava perseverança, sagacidade, inteligência e senso de observação, os
príncipes acabavam encontrando “acidentalmente” soluções para seus dilemas.
Isso revelava uma mente aberta para as múltiplas possibilidades.
A ciência
está repleta de casos famosos que podem ser classificados como serendipismo,
mas estes só ocorreram porque as pessoas estavam “abertas” a estas descobertas,
preparadas e com o senso de observação apurado. A descoberta ocasional dos
manuscritos de Qumram, a fotografia, o raio x, a penicilina, a lei da
gravidade, a descoberta de Colombo... tem em comum que não foram diretamente
buscados, mas, por serem descobertas afortunadas e inesperadas, abriram novos
horizontes e tornaram a vida mais bonita e mais agradável. O serendipismo é a
pitada que falta no nosso espírito inovador e criativo, que é estar sempre
aberto ao inesperado.
O conceito
de “serendipidade” é aplicado em muitos setores da vida humana, inclusive no
campo da espiritualidade. Serendipidade se refere às descobertas ou encontros
afortunados feitos aparentemente por acaso, que muitas vezes possibilitam
transformações radicais e positivas em nossas vidas.
Na
vida espiritual, o estilo serendipitico ativa em nós o olhar atento, para
dentro e para fora, fomenta o assombro e a admiração diante da nossa realidade
cotidiana, nos mantém em atitude de abertura para o gratuito e nos faz abertos
à Graça e à sua surpreendente novidade. O verdadeiro segredo está em
abrir-nos às oportunidades que a vida nos oferece; é viver a arte de uma
apurada sensibilidade e atenção a tudo o que acontece ao nosso redor; trata-se
de reconhecer e aproveitar as descobertas inesperadas. Reconhecer, receber,
viver e agradecer.
A
vida é uma busca incessante por aquilo que consideramos essencial e as
descobertas surpreendentes só acontecem quando nos deixamos mover por esse
espírito de busca; ser buscador significa ter olhar contemplativo, ou seja,
transformar simples observações do nosso dia-a-dia em grandes descobertas. Por
isso, é nas entranhas do cotidiano que brotam as grandes intuições, as
experiências místicas, a criatividade artística, os sonhos ousados...; pois é
no cotidiano que irrompe o novo e o revolucionário. É a atitude
contemplativa que nos desperta da letargia do cotidiano. E despertos
descobriremos que o cotidiano guarda segredos, novidades, energias ocultas que
sempre podem acordar e conferir novo sentido e brilho à vida.
A vida
espiritual está cheia de “momentos serendipiticos”, ou seja, encontros
reveladores e inesperados com Aquele que se revela sempre de maneira
surpreendente, através das surpresas da vida. Só aquele que segue as intuições
do coração, estando aberto às infinitas possibilidades, pode entrar em sintonia
com Aquele que “trabalha em tudo e em todos”. Ao confiar na sua orientação
interior, a pessoa vive a sua vida com discernimento, carregando-a de amor e
paixão.
Deus
constantemente nos surpreende no singelo, nas coisas simples da vida.
Muitas vezes nós perdemos a capacidade de ver a sua ação nas pequenas coisas e
ficamos esperando grandes sinais. Cada instante é uma chance para perceber esse
amor que Ele tem por nós. Se vivemos cada momento ordinário de forma
extraordinária, certamente perceberemos a sua ação e seremos surpreendidos por
Ele - um encontro com alguém, um gesto de bondade, uma palavra que alguém nos
dá, uma paisagem que vemos, enfim, infinitos momentos em que Deus nos fala e
nos busca surpreender. Mas, por não prestarmos atenção, por estarmos dispersos
em tantas preocupações, por não fazer silêncio em nosso interior, acabamos não
percebendo.
O
Evangelho também está cheio desses momentos serendípiticos: uma multidão
faminta em busca por alimento e aparece um menino com apenas cinco pães e dois
peixes; uma mulher samaritana em busca de água e inesperadamente encontra-se
com o autor da água viva; o baixinho Zaqueu que desejava apenas matar a
curiosidade, é surpreendido por Jesus que deseja ser hóspede em sua casa; as
parábolas da descoberta inesperada do tesouro e da pérola...
O papa
Francisco, em uma Homilia proferida no Santuário Nacional de Aparecida,
convidou-nos a constantemente "deixar-nos surpreender por Deus".
Deus espera que nos deixemos “surpreender por seu amor, que acolhamos as
suas surpresas”. O papa nos mostrou como modelo a história do Santuário: três
pescadores depois de um dia inteiro sem apanhar peixe encontram, nas águas do
Rio Paraíba, a imagem da Senhora Aparecida. Sabemos que os pescadores, após
encontrarem a imagem milagrosamente, têm uma pesca abundante e conseguem o que
precisavam para atender ao conde de Assumar. O Papa Francisco vai além, vai ao
essencial desse episódio para entendermos melhor como Deus atua: “Quem poderia
imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, torna-se-ia o lugar onde todos
os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende,
sempre nos reserva o melhor”.
O
evangelho deste domingo nos motiva a “des-velar” nosso “eu profundo”, o lugar
onde habitam os aspectos benéficos da nossa personalidade, as boas tendências,
as qualidades positivas, os dons naturais, as riquezas do ser, as beatitudes
originais, as aspirações de grande fôlego, as ideias-força, os dinamismos da
vida... Ao transitar, de maneira atenta e contemplativa pelos espaços interiores,
seremos surpreendidos por descobertas inesperadas que farão toda a diferença em
nossas vidas.
O “tesouro
do ser” (certezas, intuições, projetos, valores...) ainda que pareça esquecido,
permanece armazenado em sua mensagem essencial, e pode tornar-se a força que
orienta toda a vida, a sabedoria da própria vida, um lugar de fecundidade, de
criatividade, fonte de renovação...
Dentro
de nós temos forças construtivas que podem mudar-nos eficazmente. E é preciso
dar-lhes curso, não ocultando-as e nem desprezando-as, mas deixando-as aflorar
espontaneamente. “Que eu me conheça e que te conheça, Senhor! Quantas riquezas entesoura o
homem em seu interior! Mas de que lhe servem, se não se sondam e investigam” (S.
Agostinho)
É
decisivo estar dispostos a abrir espaços em nossa história a novas pessoas e
situações, novas vivências, novas experiências... Porque sempre há algo
diferente e inesperado que pode enriquecer-nos. A vida está cheia de
possibilidades e surpresas; inumeráveis caminhos que podemos percorrer; pessoas
instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios, encontros, aprendizagens,
motivos para celebrar, lições que aprenderemos e nos farão um pouco mais
lúcidos, mais humanos e mais simples...
Texto
bíblico: Mt 13,44-52
Na oração: A
oração ajuda a liberar o “olhar” para contemplar a realidade de outra maneira.
Com isso, cada um pode descobrir melhor no seu cotidiano o que há de novidade
positiva e salvadora.
-
Contemplar é ter uma sensibilidade para deixar-se surpreender por Deus hoje, ou
seja, re-educar o olhar para deixtar-se impactar pelo novo, pelo inesperado...
-
na sua vivência cristã, identifique algumas ocasiões em que você não estava
esperando e descobriu algo que se revelou importante para sua vida. Pe. Adroaldo
Palaoro sj