1 Corintios 13- O amor é a essência da vida!
Ainda que eu fale a língua dos anjos e dos
homens,
Se não tiver caridade, sou como o bronze que
ressoa
Ou como o címbalo que tinhe.
Ainda que eu tenha o dom da profecia
E conheça todos os mistérios e toda a ciência,
Ainda que possua a fé em plenitude,
A ponto de transportar montanhas,
Se não tiver caridade, nada sou.
Ainda que distribua todos os meus bens em
esmolas
E entregue o meu corpo a fim de ser queimado,
Se não tiver caridade, de nada me aproveita.
A caridade é paciente,
A caridade é benigna, não é invejosa;
A caridade não se ufana, não se ensoberbece,
Não é inconveniente, não procura o seu
interesse,
Não se irrita, não suspeita mal,
Não se alegra com a justiça, mas rejubila com
a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta.
A caridade nunca acabará.
As profecias desaparecerão,
As línguas cessarão e a ciência findará,
Porque a nossa ciência é imperfeita.
Mas quando vier o que é perfeito,
O que é imperfeito será abolido.
No tempo em que eu era criança,
Falava como criança, raciocinava como
criança;
Mas, quando me tornei homem,
Eliminei as coisas de criança.
Hoje vemos, como por um espelho,
De maneira confusa,
Mas então veremos face a face.
Hoje conheço de maneira imperfeita:
Então, conhecerei exatamente,
Como também sou conhecido.
Agora subsistem estas três:
a fé, a esperança e a caridade;
Mas a maior delas é a caridade.
A CARIDADE
O Espírito Santo fala-nos hoje,
por intermédio do Apóstolo, de umas relações entre os homens completamente desconhecidas
do mundo pagão, pois têm um fundamento totalmente novo: o amor a Cristo.Todas
as vezes que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que
o fizestes2. Com a ajuda da graça, o cristão
descobre Deus no seu próximo; sabe que todos somos filhos do mesmo Pai e irmãos
de Jesus Cristo.
A virtude sobrenatural da caridade
não é um mero humanitarismo. “O nosso amor não se confunde com a atitude
sentimental, nem com a simples camaradagem, nem com o propósito pouco claro de
ajudar os outros para provarmos a nós mesmos que somos superiores. É conviver
com o próximo, venerar [...] a imagem de Deus que há em cada homem, procurando
que também ele a contemple, para que saiba dirigir-se a Cristo”3.
O Senhor deu um conteúdo inédito e
incomparavelmente mais alto ao amor ao próximo, destacando-o como mandamento novo e verdadeiro distintivo dos cristãos4. A medida do
amor que devemos ter pelos outros é o próprio amor divino: como eu vos amei; trata-se,
portanto, de um amor sobrenatural, que o próprio Deus põe em nossos corações. É
ao mesmo tempo um amor profundamente humano, enriquecido e fortalecido pela
graça.
Sem caridade, a vida ficaria
vazia... A eloquência mais sublime e todas as boas obras – se pudessem dar-se –
seriam como o som de um sino ou de um címbalo, que dura um instante e
desaparece. Sem caridade, diz-nos o Apóstolo, de pouco servem os dons mais
preciosos: Se não tiver
caridade, nada sou. Muitos doutores e escribas sabiam mais de Deus,
imensamente mais, que a maioria daqueles que acompanhavam Jesus – gente que ignora a lei5 –, mas a sua
ciência ficou sem fruto. Não entenderam o fundamental: a presença do Messias
entre eles e a sua mensagem de compreensão, de respeito, de amor.
A falta de caridade embota a
inteligência para o conhecimento de Deus e da dignidade do homem. O amor, pelo
contrário, desperta, afina e aguça as potências. Somente a caridade – amor a
Deus e ao próximo por Deus – nos prepara e dispõe para entender Deus e o que a
Deus se refere, até onde uma criatura pode fazê-lo. Quem não ama não conhece a Deus – ensina São João –, porque Deus é amor6. A virtude da esperança também se torna estéril sem a caridade,
“pois é impossível alcançar aquilo que não se ama”7; e todas as obras são vãs sem a caridade, mesmo as mais custosas
e as que comportam sacrifícios: Se
eu repartir todos os meus bens e entregar o meu corpo ao fogo, mas não tiver
caridade, isso de nada me aproveita. A caridade não pode ser substituída
por nada.
II. SÃO PAULO APONTA as qualidades que adornam a caridade e
diz em primeiro lugar que a
caridade é paciente. Para fazer o bem, deve-se antes de mais nada saber
suportar o mal.
A paciência denota uma
grande fortaleza. É necessária para nos fazer aceitar com serenidade os
possíveis defeitos, as suscetibilidades ou o mau-humor das pessoas com quem
convivemos. É uma virtude que nos levará a esperar o momento adequado para
corrigir; a dar uma resposta afável, que muitas vezes será o único meio de
conseguir que as nossas palavras calem fundo no coração da pessoa a quem nos
dirigimos. É uma grande virtude para a convivência. Por meio dela imitamos a
Deus, que é paciente com os nossos inúmeros erros e sempre tardo em irar-se8; imitamos Jesus Cristo que, conhecendo bem a malícia dos
fariseus, “condescendeu com eles para ganhá-los, à semelhança dos bons médicos,
que dão os melhores remédios aos doentes mais graves”9.
A
caridade é benigna, isto é, está disposta de antemão a acolher a todos com
benevolência. A benignidade só se enraíza num coração grande e generoso; o
melhor de nós mesmos deve ser para os outros.
A
caridade não é invejosa. Da inveja nascem inúmeros pecados
contra a caridade: a murmuração, a detração, a satisfação perante a adversidade
do próximo e a tristeza perante a sua prosperidade. A inveja é frequentemente a
causa de que se abale a confiança entre amigos e a fraternidade entre irmãos. É
como um câncer que corrói a convivência e a paz. São Tomás de Aquino chama-a
“mãe do ódio”.
A
caridade não é jactanciosa, não se ensoberbece. Sem
humildade, não pode haver nenhuma outra virtude, e particularmente não pode
haver amor. Em muitas faltas de caridade houve previamente outras de vaidade e
orgulho, de egoísmo, de vontade de aparecer. “O horizonte do orgulhoso é terrivelmente
limitado: esgota-se em si mesmo. O orgulhoso não consegue olhar para além da
sua pessoa, das suas qualidades, das suas virtudes, do seu talento. É um
horizonte sem Deus. E neste panorama tão mesquinho, nunca aparecem os outros,
não há lugar para eles”10.
A
caridade não é interesseira. Não pede nada para a própria pessoa; dá
sem calcular o que pode receber de volta. Sabe que ama a Jesus nos outros e
isso lhe basta. Não só não é interesseira, mas nem sequer anda à busca do que
lhe é devido: busca Jesus.
A
caridade não guarda rancor, não conserva listas de agravos
pessoais; tudo desculpa.
Não somente nos leva a pedir ajuda ao Senhor para desculpar a palha que possa
haver no olho alheio, mas nos faz sentir o peso da trave no nosso, as nossas
muitas infidelidades.
A
caridade tudo crê, tudo espera, tudo tolera. Tudo, sem nenhuma
exceção.
Podemos dar muito aos
outros: fé, alegria, um pequeno elogio, carinho... Nunca esperemos nada em
troca, nem sequer um olhar de agradecimento. Não nos incomodemos se não somos
correspondidos: a caridade não busca o seu, aquilo que, considerado
humanamente, poderia parecer que lhe é devido. Não busquemos nada e teremos
encontrado Jesus.
III. A CARIDADE NÃO
TERMINA nunca.
As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência findará [...]. Agora
permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a mais
excelente delas é a caridade11.
Estas três virtudes
são as mais importantes da vida cristã porque têm o próprio Deus por objeto e
fim. Mas a fé e a esperança não subsistem no Céu: a fé é substituída pela visão
beatífica; a esperança, pela posse de Deus. A caridade, no entanto, perdura
eternamente; é, já aqui na terra, um começo do Céu, e a vida eterna consistirá
num ato ininterrupto de caridade12.
Esforçai-vos
por alcançar a caridade13,
urge-nos o Apóstolo São Paulo. É o maior dom e o principal mandamento do
Senhor. Será o distintivo pelo qual se reconhecerá que somos discípulos de
Cristo14; é uma virtude que,
para bem ou para mal, estaremos pondo à prova em cada instante da nossa vida.
Porque a qualquer hora
podemos prestar ajuda numa necessidade, ter uma palavra amável, evitar uma
murmuração, dirigir uma palavra de alento, fechar os olhos a uma
desconsideração, interceder junto de Deus por alguém, dar um bom conselho,
sorrir, ajudar a criar um clima mais descontraído e risonho na família ou no
trabalho... Podemos fazer o bem ou omiti-lo; ou então, além das omissões,
causar um mal direto aos outros, magoá-los e talvez, em casos extremos,
contribuir para a sua destruição. E a caridade insta-nos continuamente a ser
ativos no amor, com obras de serviço, com oração e também com penitência.
Quando crescemos na
caridade, todas as virtudes se enriquecem e se tornam mais fortes. E nenhuma
delas é verdadeira virtude se não estiver impregnada de caridade: “Tens tanto
de virtude quanto de amor, e não mais”15.
Se recorrermos
frequentemente à Virgem, Ela nos ensinará a relacionar-nos com os outros e a
amá-los, pois é Mestra de
caridade. “A imensa caridade de Maria pela humanidade faz com que também
nela se cumpra a afirmação de Cristo: Ninguém
tem maior amor que aquele que dá a vida pelos seus amigos (Jo 15, 13)”16. A nossa Mãe Santa Maria também se entregou por nós.
Dia 03-02-013- Aniversario da morte de Sagrario.