domingo, 12 de agosto de 2012


SEGUIR JESUS
Evangelhos apresentam muitos relatos de vocação. Quase todos eles simples: basta uma palavra de Jesus, um olhar, um desafio, um toque… e aquele que o recebe e percebe torna-se seu discípulo. Mas, por detrás do relato simples encontramos uma exigência de vida profunda, ou melhor, uma mudança profunda de atitude e de vida. De fato, o “vem e segue-me”, o “hoje tenho que ficar em tua casa” ou o “vinde ver”, encerram em si, primeiro que tudo, uma diferença em relação a todas as outras formas de discipulado do tempo: não são os discípulos que escolhem o mestre mas é o Mestre que escolhe os discípulos e lhes propõe um projeto de vida completamente diferente (de referir que a escolha por parte de Jesus deixa o homem sempre na liberdade de aceitar ou não o convite a seguí-l’O). Mais, não lhes é proposto que aprendam conteúdos puramente intelectuais mas sobretudo que vivam sendo testemunho: «Como Eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão que sois meus discípulos»; «Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam».
            Só por aqui já notamos a aspereza do caminho! De fato, não é nada fácil mudarmos radicalmente a nossa forma de estar e de ser. Além disso, amar os inimigos? Amar quem nos deseja e faz mal? Quem nos oprime, nos rejeita… diz mal de nós, mente, fere…
            Ser discípulo de Jesus implica estar disposto a seguí-l’O para onde quer que Ele vá! E aqui encontramos nova dificuldade: Jesus percorre um caminho que o conduz à Cruz! Seria oportuno, desde já, perguntarmo-nos se estamos disposto a aceitar percorrer este caminho? Este é, sem dúvida, o caminho que Jesus nos propõe! Então, ser discípulo de Jesus não é nada fácil, ou melhor, não podemos tomá-lo de ânimo leve, de forma ligeira. Atrever-me-ia a dizer que Jesus escolheu os seus discípulos (escolheu-me e escolheu-te) para nos ensinar que caminho espera Deus que cada um percorra e como o deve percorrer.
Se pegarmos nos textos bíblicos, descobriremos que é no caminho da Cruz que Jesus instrui os seus discípulos. Colocar-se atrás d’Ele é já por si só descobrir o caminho; mas mais, durante essa descoberta, Jesus ensina-nos que esse caminho só se poderá fazer quando a nossa vida se traduzir em gestos concretos de amor (de Deus) manifestados na nossa entrega pelos homens (à maneira de Jesus).
            Os discípulos de Jesus devem estar dispostos a renunciar a si mesmos, a perder a própria vida, a ocupar o último lugar, a fazerem-se servidores de todos. Somente aquele que se esvazia de si e se deixa preencher de Deus e do seu amor encontra a forma, a coragem e o sentido de ser todo para os outros, de ser verdadeiro discípulo do seu Mestre Jesus. Ou não foi isso que Ele nos ensinou? «Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo» (Lc 14,26-27). Jesus não nos pede que rejeitemos (odiar) os outros. Isso seria uma contradição ao mandamento do amor. Pede-nos que a nossa vida tenha como horizonte a capacidade de amar à maneira de Deus, igual à de Jesus: «Quem é minha mãe e quem são meus irmãos…» são estes que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus, os que ouvem a sua palavra e a põem em prática (Mt 12,46-50; Mc 3,31-35; Lc 8,19-21). Jesus faz-nos uma proposta maior, uma proposta em que o amor não será limitado ou exclusivo, uma proposta que nos pode levar a readquirir o nosso momento e estado inicial pensado pelo criador: feitos à sua imagem e semelhança.
            Ser discípulo de Jesus implicará sempre abandono do nosso egoísmo e dos nossos pequenos (e por vezes mesquinhos). Ou duvidamos de que Deus «sonhe» em grande? As nossas atitudes, por vezes, o nosso ser discípulo, outras vezes, revelam isso mesmo. É mais fácil adaptar Cristo aos nossos projetos do que nós nos adaptarmos ao seu. É mais cômodo reduzir Deus à nossa dimensão do que elevarmo-nos à sua. É mais seguro(!) pormos Jesus a caminhar atrás de nós do que empenharmo-nos ou desprendermo-nos das nossas seguranças para nos confiarmos totalmente a Ele e o seguirmos.
            Negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e perder a própria vida (Mc 8,34-38) significa deixar de colocar o centro da nossa vida em nós mesmos, nos nossos projetos, naquilo que nos apetece… e começar a colocar os outros no centro. É assim que se encontra a verdadeira vida.
            Sermos os últimos e os servidores de todos (Mc 9,35-37) significa romper com o nosso desejo de figurar, de sermos considerados, louvados, reconhecidos; e passar a ocupar o último lugar, o lugar dos que não se contam, e dali colocarmo-nos ao serviço dos outros.
            Sermos servidores e escravos dos demais (Mc 10,41-45) significa fazer o contrário do que fazem os grandes e os poderosos; renunciar ao poder sobre os demais, não pressionar, não querer que os outros façam a nossa vontade. Pelo contrário, deixar que eles sejam nossos senhores e nós seus escravos por amor.
            É um caminho difícil! Quase impossível de percorrer somente com as nossas próprias forças. Só há uma forma de fazê-lo: colocarmo-nos atrás de Jesus e fazer com que os nossos pés vão pisando as suas pegadas, vivendo como Ele, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida por todos.
            Cabe aqui uma palavra acerca do nosso ser cristão. Não se trata de uma crítica mas de uma evidência: celebração e vida têm que caminhar de mãos dadas. É importante refletir hoje sobre o nosso ser cristão. Não é consequente a vida e a fé daquele que pensa que para ser cristão basta participar na Eucaristia (muitos dizem ir à Missa; e será que celebram?) ou mesmo rezar em dois ou três momentos ao longo do dia.
Participar na Eucaristia significa configurarmo-nos à Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, significa celebrarmos Aquele que ama até ao limite, até ao fim; e que resultado tem isso na minha vida, no meu dia a dia? Que mudança trás à minha vida na relação com os outros, com o mundo?
Para que rezo? Para que Deus faça a minha vontade? Ou para que eu, cada vez mais, descubra a vontade de Deus, o conheça e a Ele me entregue?


Dou graças pelo quê? Porque Deus se faz homem, percorre comigo o caminho, entrega-se por mim, -me para Deus, Ama-me?

E que consequências trás este amor e esta forma de vida à minha própria vida? Amo os irmãos? Sirvo ou sirvo-me (da Igreja)?

Que atos e gestos concretos de amor vivo como discípulo? Afinal o que é ser discípulo de Jesus para mim?

Em que me compromete? Em que estou diferente por o conhecer e celebrar?

A que me desafia? Onde tenho que mudar?
FRANCISCO COUTO                     


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