A Sarça Ardente
"Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Mediã. Um dia em que conduzira o rebanho para além do deserto, chegou até a montanha de Deus, Horeb. O Anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama que saía do meio de uma sarça. Moisés olhava: a sarça ardia, mas não se consumia. 'Vou voltar, disse ele consigo, para contemplar esse extraordinário espetáculo, e saber por que a sarça não se consome.' Vendo o Senhor que ele se voltou para ver, chamou-o do meio da sarça: 'Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa. Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus e Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó'.
Moisés escondeu o rosto, e não ousava
olhar para Deus. O Senhor disse: 'Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está
no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim; eu conheço
seus sofrimentos. E desci para o livrar da mão dos egípcios e para fazê-lo
subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel.
Vai, eu te envio ao faraó para tirar do Egito os israelitas, meu povo'. Moisés
disse a Deus: 'Quem sou eu para ir ter com o faraó e tirar do Egito os
israelitas?'.
'Eu estarei contigo', respondeu
Deus!"
A Eucaristia é essa sarça ardente,
dentro da qual o Senhor chama cada um de nós, como chamou Moisés. É esse fogo
divino, é essa "fornalha ardente de caridade" que nunca se consome e
que, sem "nos consumir" - pois cada um de nós conserva a sua própria
identidade - , vai purificando-nos, transformando-nos, levando-nos " a
atingir o estado de homem feito, à estatura da maturidade de Cristo. Para que
não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de
doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus artifícios
enganadores" (Ef 4, 13-14)
Mas não esqueçamos que o Senhor nos
avisa: "Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que te encontras é
terra santa" . Assim, necessário se faz que nos aproximemos da Eucaristia,
de pés descalços...
E, quantas vezes, nos aproximamos do
Senhor na Eucaristia com as botas do nosso coração fechado que não sabe
perdoar, que guarda ódio ou rancor, que não acolhe o irmão!
Outras vezes nos aproximamos com os sapatos do
nosso mau humor, do nosso orgulho, da nossa auto-suficiência, do nosso saber,
do ser "dono da verdade"!
Muitas vezes vamos com as sandálias da
nossa displicência, da nossa pouca profundidade diante desse mistério
insondável do amor de Deus!
E ainda, não raras vezes, vamos com
os chinelos do
nosso comodismo, da nossa pouca disponibilidade, da nossa falta de
participação!
O Senhor quer que vamos a ele, sem
botas, sem sapatos, sem sandálias, sem chinelos, nos quer bem perto dele, mas
de pés descalços, pequenos, humildes, conscientes da nossa fragilidade e da
nossa impotência.
Então, de dentro da sarça, ele nos
diz: "Vai, eu te envio", vai libertar a quantos por aí andam
oprimidos, seja no corpo, seja no espírito!
Cada Eucaristia recebida nos traz
essa ordem: "Vai libertar!"
E essa ordem, gera em nós o mesmo
medo que gerou em Moisés: "quem sou eu para ir ter com o faraó e tirar do
Egito os israelitas?" , mas cada Eucaristia nos traz uma garantia:
"Eu estarei contigo".
Foi isso que a meditação da sarça
ardente despertou dentro de mim e agora, a cada dia, quando me aproximo do
Senhor na Eucaristia procuro me examinar, ver que tipo de calçado levo nos pés
e peço a ele que me ajude a ir encontrá-lo de pés descalços, consciente da
minha pequenez e fragilidade, mas cada dia mais ciente da responsabilidade de
ir libertar oprimidos que andam por aí buscando paz, segurança, realização.
E essa "chama que sai do meio da
sarça e que não se consome" continua ardendo o dia inteiro, dizendo:
"Vai, eu estarei contigo. Vai, eu estarei contigo...".
Texto retirado do livro: VIVERÁS EM
MIM
Autora: Carmita Overbeck
Editora: Paulinas
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